(Un)Known Artists of the Amazon

A região amazônica é um dos ecossistemas mais importantes do mundo. Além disso, também é uma paisagem cultural criada pelo homem e caracterizada pela sua diversidade. Mais de 200 sociedades indígenas vivem na Amazônia brasileira. Elas diferem em termos de língua e cultura. O que têm em comum é o fato de que sua produçao artística é feita a partir de elementos de sua localização geografica, seu bioma, e também seu contexto ritualistico e espiritual.

Nenhuma língua indígena da Amazônia tem uma palavra para arte. Mas há coisas que são feitas com beleza e perícia. Durante muito tempo, os criadores dessa arte não foram reconhecidos como indivíduos. Eram vistos apenas como representantes das suas comunidades e tradições. O Weltmuseum Wien (WMW) possui cerca de 4.000 objetos da região amazônica brasileira. Esses objetos são conectados a suas designações étnicas, mas raramente aos nomes dos seus criadores. A coleção do Museu de Arte Indígena (MAI) de Curitiba, no Brasil, é diferente: quase todos os artistas das obras podem ser nomeados e o museu mantém-se em contato ativo com os mesmos.

Esta exposição é uma cooperação entre o WMW e o MAI. As curadoras Claudia Augustat (WMW) e Julianna Polodan Martins (MAI) colocaram as coleções dos dois museus num diálogo que mostra como obras de arte autônomas se desenvolveram a partir de objectos comuns e rituais.

Saudações de Curitiba

Saudações de Curitiba

O Museu de Arte Indígena (MAI) de Curitiba comemora seu décimo quinto aniversário em 2024. Desde sua fundação, ele tem se dedicado à valorização e ao reconhecimento das culturas e do trabalho artístico dos grupos indígenas no Brasil. Juntamente com o Weltmuseum Wien (WMW), o MAI está apresentando um recorte de sua coleção, que representa a beleza e a diversidade dos trabalhos desenvolvidos por diferentes grupos étnicos na região amazônica.

É importante para nós do MAI mostrar que a arte indígena está viva. Queremos difundir a relevância da produção indígena brasileira para o mundo.

No Brasil, estamos vivenciando o reconhecimento e a visibilidade dos artistas indígenas.  A arte indígena está sendo exposta em museus, instituições, bienais nacionais e internacionais e galerias de arte. Coletivos de artistas estão surgindo com obras contemporâneas cujas referências culturais são claramente reconhecíveis. A autoria está ganhando destaque, e os grupos indígenas estão surgindo como protagonistas de suas obras.

Todos os elementos que compõe o fazer artístico indígena possuem um conceito, um significado específico. Na arte indígena o belo é utilizado como expressão cultural, manifestada pela imaginação espontânea transmitida através da ancestralidade sempre presente na arte, conectando toda sua história. O diálogo entre as coleções do WMW e do MAI esperam proporcionar ao visitante um novo olhar sobre os artistas (des)conhecidos da Amazônia.

Arte Plumária

Arte Plumária

Entre 1817 e 1835, o zoólogo austríaco Johann Natterer viajou pelo Brasil e coletou mais de 2.000 objetos de comunidades indígenas. Ele não ficou impressionado com os fabricantes desses artefatos, mas ficou muito impressionado com o trabalho feito com penas. Em uma carta para seu irmão, ele escreveu:

“Os Mundurucus vivem na região do baixo Tapajóz. Embora eu vá ficar com esses índios por algum tempo em minha viagem para a Amazônia, achei que deveria tomar o caminho mais seguro, ou seja, levar esses trabalhos indígenas comigo, pois eles chegarão a Viena muito mais cedo, onde superarão em beleza tudo o que existe dos índios.”

Desde então até hoje a percepção da arte ocidental da Amazonia refere-se a produção de plumária.

Naquele período os artistas foram observados como artesões da sua tradição sem nenhuma preocupação quanto a sua autoria.

Dica: Você pode ver a arte com penas Munduruku em exposição no mezanino. Para ir ao mezanino, é necessário um ingresso para o museu.

Fotos: Ka'apor, década de 1960, fotógrafo: Borys Malkin; Tapirapé, 1969–1971; Yanomami, c.1980, fotógrafo: Fritz Trupp; Weltmuseum Wien, coleção de fotos

Penas para homens e mulheres

Penas para homens e mulheres

Os aproximadamente 2.000 Ka'apor vivem em sua Terra Indígena ao longo do Rio Gurupí, no estado do Maranhão. Eles são considerados mestres da arte plumária, que só é feita por homens. Na maioria das comunidades indígenas, a arte plumária também é usada somente por homens. Os Ka'apor são uma exceção. Tanto homens quanto mulheres aparecem totalmente adornados com trabalhos de penas nas cerimônias de nomeação de crianças. As crianças recebem seus nomes por volta de um ano de idade. A cerimônia de nomeação é um ritual de renovação no qual os Ka'apor garantem seu futuro. O cocar amarelo usado pelos homens simboliza o sol e tem o objetivo de iluminar esse futuro.

Artista desconhecido, Ka'apor
Arte com penas para homens, 1965
Penas, fibras vegetais, tiras de folhas de palmeira, ossos, cápsulas de sementes
WMW, coll. Borys Malkin

Artista desconhecido, Ka'apor
Arte com penas para mulheres, 1965
Penas, fibras vegetais, cola orgânica
WMW, coll. Borys Malkin

Dançando com o inimigo

Dançando com o inimigo

Os cerca de 900 Tapirapé vivem na região do Rio Araguaia, nos estados do Mato Grosso e Tocantins.

Na língua Tapirapé, a máscara de dança é chamada de tawa. Apenas algumas pessoas ainda falam essa língua. Em português, a máscara de dança é chamada de cara grande. Ela mostra o espírito de um inimigo morto. Talvez um karajá ou um kayapó - vizinhos que os Tapirapé consideram bárbaros e temem. Eles podem ser controlados por meio da dança, com a ajuda de máscaras e o poder dos xamãs.

Sua inimizade com os vizinhos, no entanto, não exclui a possibilidade de parentesco, por exemplo, por meio do casamento. Hoje, os Tapirapé compartilham uma terra indígena com os Karajá. Sua história comum de colonização e deslocamento une esses antigos inimigos no presente.

Artista desconhecido, Tapirapé
Máscara, antes de 1964
Madeira, penas, ossos, conchas, fibras vegetais
WMW, coll. Borys Malkin

O adorno dos não-humanos

O adorno dos não-humanos

Os cerca de 30.000 Yanomami vivem na região da fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Seu lar urihi (floresta) é caracterizado pela interação entre humanos e não humanos. Os não-humanos incluem os xapiripë. Eles representam animais, plantas e estrelas, entre outras coisas. Para os Yanomami, eles aparecem como pessoas minúsculas adornadas com ornamentos coloridos e brilhantes. Nos festivais, os Yanomami usam ornamentos semelhantes. Eles pintam seus corpos e se enfeitam com arte de penas ou faixas de cabeça feitas de pele de macaco. Isso lhes permite se comunicar com os xapiripë.

Os xamãs são especializados nessa comunicação: junto com os xapiripë, como espíritos ajudantes, eles protegem sua comunidade.

Artista desconhecido, Yanomami
Faixa de cabeça com pingente, ca. 1990
Pele de macaco, partes de foles de pássaros, fios de algodão
WMW, coll. Irenäus Eibl-Eibesfeldt

Artista desconhecido, Yanomami
Dois pingentes, antes de 1990
Peles de pássaros, penas, algodão, fibra de casca de árvore
WMW, coll. Irenäus Eibl-Eibesfeldt

Artista desconhecido, Yanomami
Joias de orelha, antes de 1990
Penas, madeira, fibra vegetal, resina
WMW, coll. Irenäus Eibl-Eibesfeldt

Artista desconhecido, Yanomami
Parte de uma joia para o braço antes de 1990
Penas, algodão, resina
WMW, coll. Irenäus Eibl-Eibesfeldt

A arte dos ancestrais

A arte dos ancestrais

Cerca de 1.600 Rikbaktsa vivem na bacia do Rio Juruena, no noroeste do estado de Mato Grosso. Eles entraram em contato regular com a população não indígena do Brasil pela primeira vez na década de 1940, com consequências desastrosas. As epidemias tiraram a vida de três quartos dos Rikbaktsa. A influência dos missionários jesuítas também afetou sua cultura. O austríaco João Dockstader foi um desses missionários. Foi por meio dele que essa coleção chegou ao Weltmuseum Wien em 1974.

Convidamos o artista Messias Rikbaktsa para selecionar um grupo de objetos e fotos. Messias aprendeu a técnica da arte plumária quando criança com seu pai e seu avô. Hoje, ele é a única pessoa em sua aldeia que domina essa técnica e mantém vivo o conhecimento sobre ela para seu grupo. As leis de proteção a espécies de aves ameaçadas de extinção tornam ilegal a exportação da maioria das obras de arte plumária brasileira. Por esse motivo, não podemos mostrar exemplos de seu trabalho aqui.

Fotos: Harald Schultz, 1962, coleção de fotos da WMW

Artista feminina desconhecida, Rikbaktsa
Colares, antes de 1974
Peles de pássaros, penas, algodão
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Joias para nariz, antes de 1974
Penas, cabelo humano, fibras vegetais
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Colares, antes de 1974
Osso de arara, sementes, fibras vegetais
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Colar, antes de 1974
Fibras vegetais, dentes de onça
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Bracelete de criança, antes de 1974
Armadura (Casco???) de tatu
WMW, coll. Carlos Queteschiner

 Artista desconhecido, Rikbaktsa
Cutelo, antes de 1974
Pedra, madeira, tiras de madeira
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Cocar de penas, antes de 1974
Penas, tiras de folhas, algodão
WMW, Coll. Carlos Queteschiner

Artista desconhecido, Rikbaktsa
Braceletes, antes de 1974
Penas, algodão
WMW, coll. Carlos Queteschiner

Messias no Weltmuseum

Messias no Weltmuseum

Julianna teve muitas conversas com Messias durante o processo de curadoria dos objetos dos arquivos do Weltmuseum para nossa exposição. Foram conversas cheias de admiração e emoção. Messias ficou impressionado com esse encontro com o passado, e seu coração se encheu de emoções que ele mal conseguia descrever. Por telefone, de sua aldeia no Mato Grosso, e com Julianna, no museu em Curitiba, ele disse a ela que estava encantado com as imagens do que seus ancestrais produziam e impressionado com o quanto suas técnicas haviam atravessado o tempo. Atualmente, a produção deles é uma descendente fiel das que ele encontrou nas fotos do arquivo. Os cocares de penas e as narigueiras foram especialmente fascinantes para ele, já que esses são alguns dos objetos pelos quais ele é famoso. Reconhecer seus antepassados em seus próprios trabalhos foi um momento extremamente emocionante para ele.

Redes feitas por mãos

Redes feitas por mãos habilidosas

O processo de confecção das redes está nas mãos habilidosas das mulheres. As redes podem ser feitas com as fibras do buriti, cipós ou fios de algodão. A tarefa exige grande conhecimento e habilidade técnica.

Primeiro, as folhas da palmeira buriti são coletadas e secas. Em seguida, elas são separadas em fibras individuais. Essas formam os fios com os quais é feita a superfície rede. As folhas restantes são usadas para fazer as saias.

A artista Tainá Kamayurá recebeu seu conhecimento de sua avó. Ela espera passá-lo para suas netas. Atualmente, apenas algumas jovens estão interessadas em aprender a fazer redes.

O hábito de dormir em redes nas regiões Norte e Nordeste do Brasil foi uma herança indígena amplamente assimilada no território brasileiro.

Redes de dormir, s.d.
Fibras de palmeira (Buriti), algodão, pigmento
MAI

Bancos

Bancos: entre a funcionalidade e o sagrado

Muitos grupos indígenas fazem bancos. Os mais complexos e diversificados são feitos no Alto Xingu, no estado brasileiro de Mato Grosso.

Os bancos são usados na vida cotidiana da aldeia e em ocasiões festivas. Os homens se sentam em bancos. As mulheres se sentam em esteiras. Os bancos são feitos em conjunto. Os homens vão para a floresta em grupos para escolher a árvore. Eles derrubam a árvore juntos, mas cada banco é esculpido individualmente. Às vezes, as mulheres participam da pintura.

Os bancos dos xamãs são esculpidos no formato de pássaros. Os pássaros são considerados sagrados porque vivem entre o céu e a terra. Isso lhes dá acesso ao mundo dos humanos e ao mundo dos seres espirituais. Os desenhos dos bancos sempre incluem referências à mitologia e são um sinal de identidade.

Atualmente, os bancos também são importantes do ponto de vista econômico como um produto para venda. Os artistas apresentados aqui se estabeleceram no cenário artístico nacional e internacional. No entanto, eles resistem à atração econômica do mercado de arte, mantendo a maneira como fazem os bancos em suas comunidades.

Fotos: MAI

O mito de criação Tukano

O mito de criação Tukano

Os cerca de 6.000 Tukano vivem no noroeste do Brasil, na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. Nos tempos míticos pré-históricos, a primeira mãe sentou-se em um banquinho e criou o mundo enquanto fumava. Ela primeiro criou todos os objetos, depois criou as pessoas. Ela deu coisas às pessoas e, com elas, o conhecimento tradicional. Todas as crianças recebem um banquinho quando são batizadas. Ele forma uma base espiritual que conecta a criança à criação do mundo. Com o banco, elas assumem a responsabilidade de preservar e transmitir o conhecimento espiritual dos Tukano.

Artistas desconhecidos, Tukano
Banqueta pequena, c.1830
Madeira pintada
WMW, coll. Johann Natterer

Artista desconhecido, Tukano
Banqueta, 2007
Madeira pintada
WMW, coll. Andreas Kowalski e Michael Kraus

Sentados e conversando

Sentados e conversando

Os cerca de 700 Kamaiurá vivem em uma área do Alto Rio Xingu. Os bancos aqui são reservados principalmente para os chefes de família do sexo masculino. Quando o dia está chegando ao fim, os chefes de família se reúnem na praça da aldeia. Eles se sentam em seus bancos, fumam e conversam sobre o dia anterior. Também planejam atividades para o futuro, como a construção de novas casas ou o convite a uma aldeia vizinha para um banquete. Seus bancos têm o formato de abutres-rei. Os chefes de aldeia têm bancos com duas cabeças.

Os bancos também desempenham um papel importante nas comemorações da maioridade dos meninos: eles se sentam um ao lado do outro nos bancos como um sinal de transformação. Seus lóbulos das orelhas são perfurados para que possam se comunicar com seres espirituais.

Artistas desconhecidos, Kamaiurá
Banqueta com cabeça de pássaro em forma de onça, 1992
Madeira pintada
WMW, coll. Renata Leroux

Artista desconhecido, Kamaiurá
Tapete de assento para mulheres, 1992
Bambu, fibra de palmeira
WMW, coll. Renata Leroux

Turuza Waurá

Turuza Waurá (n.1990)

Turuza Waurá vive com seus pais na Terra Indígena Xingu. Seus pais também são artistas. Sua mãe, Yamunuwa, é ceramista, e seu pai, Apayupi, é conhecido por seus bancos de madeira em forma de animais. Turuza compartilha a paixão de seu pai desde a juventude. Os bancos de Turuza encontraram muitos admiradores. Junto com outros artistas da região do Xingu, ele está comprometido com a preservação do artesanato indígena. Ele deseja mostrar ao mundo a riqueza das artes e a vitalidade das culturas indígenas.

Turuza Waurá
Banqueta em forma de raio, 2018
Madeira pintada
MAI

Apahu Waurá
Banqueta em forma de peixe, 2018
Madeira pintada
MAI

Banco do xamã com cabeça dupla de pássaro, 2018
Madeira, pintada // Madeira pintada
Coleção: Sofia Guimaraes

Mayak Waurá
Banqueta em forma de arraia
Madeira pintada
Coleção: John D. Marshall

Banqueta em forma de anta
Madeira pintada
Coleção: Sofia Guimaraes

Banqueta em forma de coati, 2018
Madeira pintada
Coleção: Sofia Guimaraes

Banqueta em forma de jacaré, 2021
Madeira pintada
Coleção: Sofia Guimaraes

Artista desconhecido, Mehinako
Tapete de assento para mulheres com padrões, 2018
Cana de palma, fibra de palma
MAI

Da etnologia à bienal

Da etnologia à bienal

No final do século XIX, os exploradores já levavam caneta e papel em suas viagens. Eles não apenas registraram suas próprias impressões, mas também pediram aos indígenas que fizessem desenhos. O etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg publicou alguns desses desenhos em 1907 sob o título Die Anfänge der Kunst im Urwald (As origens da arte na selva). Cada desenho foi ilustrado com o nome do artista.

Desde então, muitos artistas indígenas têm utilizado formas de arte ocidentais. Desenhos, pinturas, instalações, formatos de mídia e performances testemunham seu poder criativo. Ao vincular cosmologias indígenas e ativismo, os artistas conseguiram alcançar mais visibilidade. Já foram exibidos em bienais de São Paulo e Veneza. Em 2023, a primeira Bienal das Amazônias aconteceu em Belém, Brasil.

Feliciano Lana

Feliciano Lana: descobrindo os mitos

Feliciano Lana nasceu na comunidade Desana, em São João Batista, no noroeste do Brasil, em 1937. Foi educado em um internato salesiano e exerceu diversas profissões. No entanto, ele adquiriu notoriedade pela seu conhecimento da cultura indígena.

Em 1980, foi publicado o livro The Beginning Before the Beginning sobre os mitos de criação dos Desana. O livro é baseado no rico conhecimento de toda a família Lana. O trabalho de Feliciano foi reconhecido internacionalmente e hoje pode ser encontrado em muitos museus. Ele morreu em 12 de maio de 2020 com sintomas de infecção por COVID-19. Luiz Gomes Lana continua seu trabalho.

Dica: Conheça mais sobre os mitos da criação de Desana no acervo expositor do mezanino. A entrada no mezanino exige ingresso do museu.

Luiz Gomes Lana
Sem título, 2016
Cores de guache de têmpera sobre papel
WMW, coll. Cécile Brundlmayer
A mítica primeira mãe senta-se no seu banco e, enquanto fuma, cria o primeiro ser humano.

Luiz Gomes Lana
Sem título, 2016
Cores de guache de têmpera sobre papel
WMW, coll. Cécile Brundlmayer
Os ancestrais de Desana viajam pelo Rio Negro em uma canoa anaconda em busca de um novo lar.

Feliciano Lana
Sem título, 2016
Cores de guache de têmpera sobre papel
WMW, coll. Cécile Brundlmayer
Desana com joias de dança.

Feliciano Lana
Sem título, 2016
Cores de guache de têmpera sobre papel
WMW, coll. Cécile Brundlmayer
A mítica primeira mãe senta-se no seu banquinho e cria o mundo enquanto fuma.

MAHKU

MAHKU

O Movimento de Artistas Huni Kuin (MAHKU) é um coletivo de artistas fundado em 2013 e sediado em Jordão, na Terra Indígena Kaxinawá (Huni Kuin), às margens do rio Jordão, no Acre, norte do Brasil. Hoje, MAHKU é um dos atores mais importantes do cenário da arte contemporânea brasileira em geral e da arte contemporânea e indígena em particular.

Muitas das obras de MAHKU são resultado de rituais com ayahuasca, planta medicinal. Juntamente com os cantos sagrados, são evocados os mitos e a história dos Huni Kuin. Sob a influência da ayahuasca, as fronteiras entre passado, presente e futuro se confundem. Este cruzamento de fronteiras é retratado na arte de MAHKU.

Coletivo MAHKU
Nai Baba Masherí, 2023
Serigrafia
Empréstimo coleção Sofia Guimarães

Coletivo MAHKU
Yube Nava Ainbu, 2023
Serigrafia
Empréstimo coleção Sofia Guimarães

Jaider Esbell

Jaider Esbell (1979–2021)

A arte de Jaider Esbell está profundamente enraizada na luta e na resiliência dos grupos indígenas. Oferece um comentário profundo sobre a vida na Amazônia, seus desafios e esperanças. Conheci Jaider em 2016, quando ele me deu esse trabalho de presente. É o terceiro da série A Aldeia de Macunaíma – o ancestral mitológico da Amazônia. As casas, o espaço sagrado e a floresta têm o formato de centopéias. Jadier e eu nos tornamos amigos. A situação das comunidades indígenas na sua luta contra o desmatamento, a mineração e a exploração esteve sempre presente em nossas conversas. Mas também falamos sobre arte, literatura e poesia. O trabalho de Jaider é uma fusão de ativismo e arte que conscientiza e homenageia a rica cultura e conhecimento dos povos indígenas. Através de suas pinturas e escritos, Jadier tornou-se uma voz importante pela justiça ambiental e pela preservação dos direitos dos Povos Indígenas. Ele deixou um impacto duradouro na cultura brasileira e no ativismo ambiental em todo o mundo.
- Edson Krenak, escritor e ativista

Jaider Esbell (1979–2021)
O cosmos de uma aldeia Macuxi como poema cartográfico, 2016
Óleo sobre tela com pigmentos e cores pastéis
Empréstimo coleção Edson Krenak

Dança de máscaras

Dança de máscaras

Na Amazônia, a arte está intimamente relacionada a festividades e rituais, que revelam a relação das pessoas com seu ambiente. Muitas comunidades amazônicas veem o mundo inteiro sendo regido por diversas divindades: os espíritos povoam rios, florestas, árvores e plantas. Eles podem influenciar a vida das pessoas; podem fazer com que os jardins floresçam ou que os barcos afundem; podem possuir a alma das pessoas e deixá-las doentes.

A comunicação com os espíritos é essencial. Acima de tudo, essa é a tarefa dos xamãs. Trajes com máscaras são importantes para isso. Os seres espirituais podem usá-las para se manifestar e, por meio delas, a cooperação se torna possível. Durante o curto período do ritual, as pessoas e os espíritos fortalecem laços na comunidade.

Fotos: Anton Lukesch, c.1970s. WMW, coleção de fotos

Domando espíritos

Domando espíritos

Os cerca de 700 Kamaiurá vivem na bacia do Alto Rio Xingu, no Brasil. Suas máscaras são variadas e suas danças são dramáticas, mostrando a transformação gradual de espíritos selvagens em ajudantes domesticados. Primeiro, um espírito selvagem é banido em um traje mascarado. As pessoas dançam com ele, tornando-o mais calmo e dócil. No processo, o espírito muda de roupa várias vezes para enfatizar sua transformação em um assistente domesticado. O fogo não sai mais de suas orelhas porque elas se transformaram em leques, que podem ser usados para controlar o fogo - e o espírito.

Artista desconhecido, Kamaiurá
Inhamu, máscara, 1992
Cabaça, fibras de folhas, fibras de folhas de palmeira, pigmento
WMW, coll. Eduardo Leroux

Artista desconhecido, Kamaiurá
Peça de cabeça, 1992
Folha de palmeira, fibras, cana, resina, conchas de mexilhão, espinhos
WMW, coll. Eduardo Leroux

Artista desconhecido, Kamaiurá
Peça de cabeça, 1992
Fibras de folha de palmeira, cana, penas
WMW

Artista desconhecido, Kamaiurá
Peça de cabeça, 1992
Madeira, fibra de Embira, linho, algodão
WMW, coll. Eduardo Leroux

Conta Kuikuru
Máscara, 2022
Madeira pintada, fibra de palmeira
MAI

Apaiupi Waurá
Máscara, 2017
Tiras de folhas de palmeira coloridas, fibra de palmeira
MAI

Kawakanamu Mehinaku
Máscara, 2017
Cabaça pintada, fibra de palmeira
MAI

Um mundo de miçangas

Um mundo de miçangas

As contas de vidro foram integradas há muito tempo ao artesanato indígena devido às suas diferentes formas, tamanhos e cores. Juntamente com a pintura corporal, elas são um aspecto importante do adorno corporal durante festivais e rituais. As cores e os desenhos das pulseiras, brincos e colares são baseados nos padrões da pele de animais como anacondas, tartarugas, jacarés, peixes e onças.

As joias indígenas feitas de contas de vidro são produzidas por mulheres. Atualmente, elas também são muito populares entre os não indígenas. Assim, as joias criam um vínculo com o mundo não indígena, o que é importante para as mulheres indígenas. O sucesso econômico das joias garante a segurança social. Como resultado, as mulheres podem escapar de situações domésticas difíceis ou perigosas e ganhar autoconfiança e independência. Portanto, fazer joias com contas de vidro também é uma estratégia de sobrevivência.

Nesta exposição, apresentamos mulheres artistas de diferentes grupos étnicos e destacamos o trabalho de Dawa Ye'kwana, Ayu Waurá, Tainá Kamayurá, Talcana Waurá e Kayulu Trumaí.

Fotos: MAI

Dawa Ye’kwana

Dawa Ye’kwana

Dawa Ye'kwana (nascida em 1985) nasceu na comunidade indígena de Santa Maria de Erebato, no Rio Caura, no estado de Bolívar, na Venezuela. Ela aprendeu a tecer cestos com sua tataravó.

 "Comecei a trabalhar com mulheres em 2010 com o objetivo de comercializar cestas e fazer miçangas para ajudar as mulheres. Queremos combater a mineração ilegal em nossa área, queremos ter acesso justo à economia. Atualmente, 30 professoras de diferentes comunidades estão trabalhando na oficina, em um local de trabalho decente e sustentável."

Dawa recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Em 2022, seu trabalho foi retratado na revista Vogue.

Dawa Ye'kwana
Colares, brincos, pulseira, antes de 2017
Miçangas de vidro, cordão de náilon
MAI

Taina Kamayurá
Colares, antes de 2018
Contas de vidro, cordão de náilon
MAI

Talcana Waurá
Colar e pulseira, antes de 2017
Contas de vidro, cordão de náilon
MAI

Kayulu Trumai
Tanga e bolsa, antes de 2018
Contas de vidro, cordão de náilon
MAI

Ayu Waurá
Colar e pulseiras, 2022 
Miçangas de vidro, cordão de náilon
MAI

De sementes a miçangas

De sementes a miçangas a sementes

Em muitas sociedades amazônicas, a fabricação e o uso de joias de penas são reservados aos homens. As joias femininas, por outro lado, eram feitas por mulheres, principalmente com materiais derivados de plantas. Com a chegada dos europeus, as contas de vidro se tornaram um item comercial valioso. Elas substituíram as sementes nas tangas de miçangas. Cada comunidade indígena desenvolveu preferências diferentes por determinadas contas e padrões de vidro. Atualmente, as contas de vidro são caras e não estão facilmente disponíveis em todas as regiões. Por esse motivo, os Waiwai na região da fronteira entre o Brasil e a Guiana estão usando novamente as sementes de karakura. Os itens de joalheria feitos com essas sementes são frequentemente comprados por turistas, pois parecem mais autênticos do que os trabalhos feitos com contas de vidro.

Artista desconhecido, Wapischana
Tanga, antes de 2018
Contas de vidro, corte de plantas, sementes
WMW, coll. Franz Stoll

Artistas femininas desconhecidas, Tukano
Tanga, antes de 1907
Contas de vidro, fibras vegetais
WMW, coll. Amanda Loreto

Artista desconhecido, Waiwai
Tanga, 2008
Sementes de Karakura, algodão, sementes
WMW, coll. Claudia Augustat

Cerâmica

Cerâmica: nascida do rio

Nem todos os grupos indígenas produzem cerâmica. Os ceramistas mais renomados são os Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul, e os Waurá do Alto Xingu, que são representados aqui por vários artistas.

A produção de cerâmica envolve toda a família. Os homens mergulham no fundo do rio e trazem a argila para a superfície. As mulheres Waurá, em particular, têm habilidades que dão às suas cerâmicas uma qualidade e resistência especiais: elas misturam cinzas e conchas moídas na argila.

Os potes são pintados com pigmentos e corantes vegetais usando padrões que também são encontrados em outras formas de arte. Os padrões pintados na parte externa da base de uma panela protegem os alimentos nela preparados das energias impuras do solo.

Além da cerâmica para uso diário, cada vez mais esculturas de argila são feitas, especialmente aquelas que retratam animais.

Fotos: MAI

Erica Waurá
Artefato de cerâmica, 2017
Cerâmica pintada
MAI

Itsautake Waurá
Tigela Yerapoho – Divindade da escuridão – Obra sagrada para o povo Waurá, 2018
Tigela Zoomórfica – Arara de Cerâmica, 2017
Panela Zoomórfica – Tamanduá de Cerâmica, 2017
Cerâmica pintada
MAI

Yamanuwá Waurá
Tigela Zoomórfica – Anta de Cerâmica, 2019
Cerâmica pintada
MAI

Yamanuwá Waurá
Tigela Zoomórfica – Anta de Cerâmica, 2019
Cerâmica pintada
WMW, coll. Weltmuseum Wien Friends

Mapapalu Waurá
Artefato de Cerâmica que remete ao animal Tamanduá, 2022
Três tigelas bijuzeiras, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Mauka Waurá
Artefato de Cerâmica que remete ao animal Tamanduá, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Ayu Waurá
Yerapoho – Divindade da escuridão – Obra sagrada para o povo Waurá – Produção incomum
Cerâmica pintada
MAI

Yaminalu Waurá
Artefato de Cerâmica que remete ao animal Tamanduá, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Kulai Waurá
Artefato de Cerâmica com tampa que remete ao animal Cobra, 2018
Cerâmica pintada
MAI

Watapa Waurá
Panela de cerâmica ‚‘mutuku‘‘, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Pakairu Waurá
Panela de cerâmica ‚‘mutuku‘‘, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Amutu Waurá
Artefato de Cerâmica que remete ao animal Tamanduá, 2022
Cerâmica pintada
MAI

Talcana Waurá
Kamapuhai, O espírito do barro, sem data
Cerâmica pintada
Coleção: John Marshall

Artistas desconhecidas, Kamaiurá
Panelas e tigelas para armazenar joias
Cerâmica pintada, antes de 1992
WMW, coll. Renata Leroux

Mandioca

Mandioca: o "pão" indígena

A mandioca foi domesticada pela população indígena do Brasil há cerca de 9.000 anos. Isso ocorreu na região do Alto Rio Madeira, hoje no estado de Rondônia. A partir daí, a cultura da mandioca se espalhou pelos afluentes do Amazonas.

A planta venenosa só pode ser transformada em alimento com a ajuda de um processo de purificação. As variedades de mandioca diferem em seu teor de linamarina, que libera uma toxina mortal (ácido cianídrico) quando os tubérculos são processados. Se o teor de linamarina for baixo, a mandioca é chamada de "mansa" ou "doce"; se o teor for alto, é chamada de "brava" ou "amarga".

Comer mandioca, assim como dormir na rede e tomar banho várias vezes ao dia, fazem parte da cultura brasileira que vem demonstra claramente a influência indígena.

Quando a primeira constituição brasileira foi redigida em 1923, ela ficou conhecida como a "constituição da mandioca", pois estipulava que somente as mulheres brasileiras com renda de 150 alqueires de mandioca poderiam votar.

Fotos: MAI

Como tirar o veneno

Como tirar o veneno da mandioca?

Após a colheita, os tubérculos de mandioca são embebidos, descascados e ralados. Em seguida, são espremidos em esteiras, e o líquido que escorre contém o ácido cianídrico. O líquido é coletado e fervido, o que evapora o ácido cianídrico. O líquido é então processado em uma sopa saborosa. A massa prensada é seca e peneirada. Isso produz uma farinha que é assada ou cozida em bolos grandes e achatados.

Não se sabe como e quando os povos da Amazônia desenvolveram o processo de desintoxicação. Entretanto, o motivo é claro: a mandioca amarga é particularmente produtiva e também cresce nos solos pobres em nutrientes da floresta tropical. Seus tubérculos podem permanecer no solo por anos e, assim, servir como ração de emergência.

Ralador de mandioca, panela, peneira, cesto, colher de água, esteira de prensar mandioca, virador de bejiu
Vários materiais, antes de 1992
WMW, coll. Renata Leroux

A arte cria conexões

A arte cria conexões

As ferramentas não são projetadas apenas para cumprir sua função. Sua utilidade pode ser aprimorada por meio de decorações e ornamentos. Por meio da ornamentação, elas podem ser vinculadas a outras atividades e se tornar parte de um todo maior e social.

As varas de plantio decoradas com o símbolo da vespa escavadora adquirem a capacidade da vespa de melhor soltar o solo. A decoração dos viradores para os beijus (bolos planos assados feitos de farinha de mandioca) corresponde à pintura corporal dos homens. Dessa forma, a participação dos homens na produção da mandioca se torna visível. Juntamente com a mandioca, o peixe é um dos principais alimentos básicos do Alto Rio Xingu. Portanto, as esteiras de prensa de mandioca decoradas com motivos de peixe também podem ser vistas como representação de uma refeição idealizada.

Pau de Cavouco
Esquerda: Artistas desconhecidos, Kamaiurá, madeira, 1992, WMW, Coll. Renata Leroux
À direita: Mayak Waurá, madeira pintada, sem data, MAI

Pau de Cavouco
Esquerda: Artista desconhecido, Kamaiurá, madeira, antes de 1992, WMW, Coll. Renata Leroux
À direita: Mayak Waurá, madeira pintada, sem data, MAI

Apahu Waurá
Pau de cavouco com motivo da vespa escavadora e anta, 1998
Bemaltes Holz // Madeira pintada
MAI

Virador de bejiu em forma de pássaro
Esquerda: Artistas desconhecidos, Kamaiurá, madeira pintada, sem data, WMW, Coll. Renata Leroux
Centro e direita: Mayak Waurá, madeira pintada, sem data, MAI

Virador de Bejiu
Esquerda: Artistas desconhecidos, Kamaiurá, madeira pintada, antes de 1992, WMW Coll. Renata Leroux
À direita: Watapa Waurá, madeira pintada, sem data, MAI

Autu Waurá
Tapete de prensagem de mandioca, vor 2019
Palha, algodão
MAI

Itsaw Yawalapiti
Tapete de prensagem de mandioca com motivo de peixe, vor 2018
Palha, algodão
MAI

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